“Kit gay” é a forma pejorativa utilizada pelas pessoas que são contrárias ao programa Escola Sem Homofobia, para se referir a um kit de materiais desenvolvido por este. Tentando explicar em poucas palavras, o Escola Sem Homofobia é parte de um outro programa do Governo Federal, o Brasil Sem Homofobia. Dentre diversas outras ações voltadas para o combate à homofobia no ambiente escolar, tanto da parte de professores e servidores quanto de alunos, a que mais vem ganhando atenção pela forma polêmica como vem sendo tratado é a distribuição de um kit de materiais impressos e áudio-visuais para os estudantes, o tal “kit gay”. O material foi desenvolvido por algumas ONG’s e empresas sob supervisão do MEC . Mais informações sobre o programa podem ser obtidas aqui, aqui e aqui. Se você tiver interesse, pode consultar o programa Brasil sem Homofobia aqui. Vale ressaltar que o material está sendo analisado pelo MEC que ainda não se pronunciou oficialmente, mas já obteve aval da UNESCO para a sua distribuição.
O fato é que existem pessoas, entre elas o Dep. Jair Bolsonaro, que se posicionaram contra a distribuição desse material. Segundo essas pessoas, o material seria destinado a crianças da faixa etária 7 a 10 anos (reportagens publicadas recentemente, no entanto, informam que segundo o MEC o material será destinado num primeiro momento apenas para alunos do ensino médio) e faria “apologia” à homossexualidade com o objetivo de influenciar a orientação sexual dos pequenos, como parte da grande estratégia de dominação global dos LGBTT’s (risos). Aí um monte de gente pegou carona nesse discurso. De religiosos a grupos neo-nazistas, todos que por algum motivo são contra a distribuição do material. Argumentos, você encontra os mais pitorescos: “Imagine, nossos filhos de 7 anos vendo um vídeo onde um menino gosta de se vestir de menina e ser chamado de Bianca? Imagine nossas crianças aprendendo que ser gay, lésbica, bissexual ou travesti é normal?”
Aí eu pergunto se só eu vejo a baita contradição que existe no discurso desse povo. O Dep. Bolsonaro já disse em diversas ocasiões que uma “criação adequada” poderia evitar que uma pessoa se tornasse homossexual, defendendo inclusive a violência física como forma de correção para o aparecimento dos primeiros “sintomas”. O Deputado também afirma que a sexualidade do indivíduo pode ser influenciada e até mesmo definida pelo ambiente, o meio onde ele vive e interage. Os evangélicos endossam esse discurso. Ao mesmo tempo, essa gente morre de medo de que um simples vídeo educativo como este mude a orientação sexual dos seus filhos. Quer dizer, que a tal “criação adequada” não é assim tão eficiente? Qual dos dois discursos será o falso?
Qual o meio que mais influencia a formação de um indivíduo, a escola onde ele passa algumas horas ou o lar, onde passa a maior parte do seu tempo? Porque será que o “meio” não tem tanta influência assim sobre os gays? Salvo engano de minha parte, heterossexuais e homossexuais partilham o mesmo mundo. E não estamos falando apenas do ambiente escolar. Estamos falando de um sistema construído e mantido sob e sobre a heteronormatividade. E mesmo assim os gays continuam “surgindo” por aí! Saem do armário cada vez mais cedo e em quantidade cada vez maior! Continuam vivendo e pasmem, alguns juram até que são felizes! Será que é pura teimosia? Eu não conheço nenhum gay que quis “mudar de lado” após assistir uma cena de sexo na novela das 8:00.
Mas o que me chamou a atenção é um outro aspecto. Repare na frase: “Imagine nossas crianças aprendendo que ser gay, lésbica, bissexual ou travesti é normal?”. O problema não é nem o garoto assistir o vídeo e sentir vontade de se vestir de menina ou de beijar o coleguinha. O problema é ele sentir essa vontade e achar que é normal! O problema da escola mostrar a essas crianças que ser gay é normal e saudável, é que elas irão constatar que existe uma diferença entre o que aprenderam em casa e o mundo aqui fora. E aí para elas começarem a questionar outras “verdades inquestionáveis” é um pulo. Talvez isso assuste de verdade a algumas pessoas.
Mas enfim, agora é aguardar pelo parecer do MEC e torcer que ele realmente “compre” essa briga, levando o programa em frente. Mas não dá para esperar muito desses grupos conservadores. Eles se opõem a toda e qualquer conquista por parte da população LGBTT. O que podemos ter certeza é que ainda teremos muita polêmica vazia em torno de um programa que deveria ser considerado um avanço. Muito barulho apenas para confundir a opinião pública e desviar o foco do verdadeiro debate: os homossexuais não quer dominar o mundo. Eles lutam apenas por cidadania e respeito!
Atualização: Ontem (27/04/2011) o @MarkosOliveira divulgou no twitter o link do site da Ong ECOS, uma das responsáveis pelo projeto Brasil Sem Homofobia. Conforme o MEC havia divulgado anteriormente, o material é destinado aos alunos do ensino médio. Está lá, bem no começo do texto. Será que as pessoas que afirmavam que esse material era destinado “à crianças de 07 a 10 anos” continuarão a espalhar essa mentira?
Conheça os materiais que compõem o kit do Projeto Escola Sem Homofobia: http://www.ecos.org.br/projetos/esh/esh_kit.asp .
13/04/2011 at 13:39
Perfeito!
Parabéns 🙂
20/04/2011 at 19:42
Parabéns amigo! Texto muito bem escrito Concordo com cada palavrinha que você disse! Esses homofóbicos morrem de medo de ter um filho gay que “encurte a língua” deles!
24/04/2011 at 10:07
Não preciso jurar, pois os que me conhecem sabem que sou sim muito feliz com meu namorado e não trocaria um décimo do nosso amor por nada nesse mundo.
Como bem dito em seu outro texto, homossexualidade não se pega, aprende ou passa… Eu, você e qualquer outro homossexual é prova concreta disso, uns mais que outros.
Nasci e fui criado em família convictamente católica, até meus 14 anos de idade em nem sabia do que se tratava a homossexualidade, idade em que passei a a discriminar e ter uma certa aversão aos homossexuais (aquela coisa que todo pai preconceituoso ensina pro filho), só me relacionava com garotas até meus 18 anos de idade e nunca imaginei que eu poderia gostar de garotos algum dia, até que certo dia eu, jogando uma partida online de Warcraft 3 conheci um rapaz de quem me tornei amigo, mas apenas virtualmente (e nenhum dos dois tinha nenhuma pretensão secundária para com o outro) até que nos encontramos pessoalmente e eu simplesmente me senti atraído por ele, o que me colocou num profundo estado de auto-argumentação e sofrer por estar sentindo aquilo que eu havia sido ensinado a não sentir.
Hoje, 3 anos depois, aqui estamos, felizes e com muitos planos futuros juntos e casados. Ele ainda dormindo na cama ao meu lado e eu aqui digitando com fios de esperança de que algum dia nós possamos ser verdadeiramente um casal perante a sociedade e a lei.
Continuemos na luta!
o/
26/09/2011 at 14:07
Continue na luta.e viva intensamente este amor sou uma mulher quase sexagenaria ,sou casada tenho um filhos ,,luto todos os dias da minha vida pelo direitos de todos serem iguais.
Forte abraço
@patimpudim
17/05/2011 at 19:39
Sinto muito pela visão que voces tem do que chamam de Evangelicos, ou seja pessoas que acreditam em Deus e tem na biblia diretrizes para sua vida. Infelizmente acabam dando enfase apenas a uns mais exaltados e ate preconceituosos que nao sabem viver o amor pelo proximo. O fato de concordar ou nao com a sexualidade de alguem nao da o direito de julgar sua vida e critica-lo. Temos plena convicção que homossexualidade nao se pega ou se transmite, mesmo pq não é uma doença.
Peço que pensem a respeito, pois estou com medo desse termo heteronormatividade, produzir a mesma consciencia e comportamentos que o texto e eu tambem condeno dos homofobicos. sera que nao estamos caminhando para a heterofobia. e dai ao inves de eliminar um preconceito fazer surgir mais um???
18/05/2011 at 09:57
Olá Elen! Obrigado pelo seu comentário!
De maneira alguma quis fazer uma generalização. Sei que existem evangélicos corretos, com uma visão menos fundamentalista e que não discriminam os homossexuais. Mas infelizmente, como você mesmo diz existem alguns que são exaltados e preconceituosos. Espero sinceramente que sejam a minoria. Mas que minoria barulhenta, viu… Sabe o que seria muito bom? Se os evangélicos sérios, que entendem realmente sobre amar o próximo e possuem essa visão mais “aberta” do mundo também tivessem a coragem e o espaço para manifestar seus pontos de vista, reivindicar seu espaço nessa luta por uma sociedade menos desigual e discriminatória assim como você está fazendo!
Sobre o medo que você tem do termo heteronormatividade, fique tranquila! Ninguém está tentando impor nada e nem tirar direitos dos heterossexuais. Nossa luta é simples: menos preconceito e mais direitos civis. Não estamos “contra” os heterossexuais, até porque isso (a “heterofobia”) não se encaixa a sociedade plural que tanto almejamos.
Abraço!