_ Não tenho nada contra, mas acho errado.

  Dias atrás, vi esse comentário num vídeo que mostrava o namorado/noivo/marido do Rick Martin no Youtube. Toda vez que um assunto desses “polêmicos” entra em discussão, é possível ver comentários do tipo. E qual o assunto “polêmico” da vez? A polêmica da vez é a mesma de zzzzzsempre: a homossexualidade e o pequeno avanço alcançado pelos LGBT’s na luta pelos seus direitos civis. Como todos estamos cansados de saber, muitas pessoas são contra esses avanços por diversos motivos. Mas na falta de um argumento racional ou juridicamente embasado, grande parte delas lança mão do velho “não tenho nada contra, mas acho errado” ou então “amo a pessoa mas reprovo a prática”.

Esse tipo de argumento me chama a atenção por dois motivos: primeiro eu acho incrível as pessoas não perceberem a contradição contida no raciocínio. Quer dizer que tirando o fato de achar errado, repreensível e digno de vergonha a pessoa não tem nada contra? Fico aqui imaginando o que essa pessoa seria capaz de fazer caso tivesse alguma coisa contra. Tentei encontrar um exemplo pra fazer uma analogia mas é difícil. Sei lá, imagine uma pessoa não tem nada contra comer um bom bife no almoço mas acha errado matar os animais. É mais ou menos por aí? Isso pra mim é muita incoerência flexibilidade moral. “Ah, mas imagine se um parente seu é assaltante. Você seria contra a pessoa ou contra a atitude dela?” Pra começo de conversa, a gente estava falando sobre homossexualidade ou sobre ser assaltante? O que uma coisa tem a ver com a outra? Nada. Pois é, nada. E essa comparação é péssima por sinal. E o “amo a pessoa, mas não a prática”? Mas caramba, nós não estamos reivindicando amor e sim a prática. Ou o direito para amar livremente.

O segundo ponto que me chama a atenção é porque raios uma pessoa tem que se posicionar contra algo que não diz respeito a sua vida. É tão simples: se uma prática não serve para você é só não adotá-la. Pra não fugir muito do assunto, vamos ficar com o sexo mesmo. Eu por exemplo, acho que fazer sexo só para procriação é um baita desperdício. Muitas pessoas por aí defendem essa idéia e se dizem adeptas (insira aqui a sua gargalhada). Eu posso dizer que elas estão erradas? Não, não posso. Não é um crime, não diz respeito a minha vida e nem interfere na minha liberdade de fazer sexo só pelo prazer. Essa regra deve ou deveria ser aplicada no sentido contrário também.

“Ah, mas eu tenho meus valores, minha fé, minha identidade.” Tudo bem, é um direito seu. Mas a discussão não é sobre a sua identidade e sim a do outro, compreende? Você pode sim em pleno século vinte e alguma coisa adotar a Bíblia como base para seus valores e convicções. Você pode até achar que é moralmente superior a alguém por causa disso. O que você não pode é tentar impor isso aos outros. Nem querer que o ordenamento jurídico de um país se deixe influenciar por esses preceitos. Você pode até se negar a ver que o mundo mudou, junto com isso as relações pessoais evoluíram e que as leis tem que acompanhar essa evolução. Mas porque você se nega a aceitar não quer dizer que isso não aconteceu.

Mas aí me ocorreu uma dúvida: amor, respeito e aceitação são a mesma coisa?

Pra mim, pelo menos teoricamente estas palavras deveriam ser sinônimas ou pelo menos andar muito próximas. Você só ama a quem aceita e para isso você precisa respeitar, certo? Na prática porém… Minha família por exemplo, acredito que eles me amam, eles acreditam que me respeitam, mas não tenho dúvida de que não me aceitam. O simples fato de evitarem certos assuntos demonstram isso.

Respeitar virou sinônimo de evitar o assunto, ignorá-lo. Parece que conseguimos desmembrar esses três sentimentos. Criamos um respeito “lato sensu” para usarmos assim no dia a dia sem nos comprometermos demais ou para evitarmos coisas que nos incomodam.

Mas eu até entendo uma postura do tipo “acho errado mas respeito”. Afinal, ninguém é obrigado a concordar com tudo e nem a conviver com quem não gosta.

Mas aceitação é mais amplo que isso. Quando você fala “não tenho nada contra” ou “até tenho amigos” você está criando uma idéia de aceitação. E aí se você emendar com um “acho errado” fica incoerente. Não dá para falar em aceitação sem se despir da presunção de superioridade seja ela moral, cultural ou outra qualquer. Aceitar o próximo requer empatia. Ter a capacidade de pelo menos tentar se colocar no lugar dele, entender seus pontos de vista, compreender seus ideais. Se você acha que aceita o diferente mas fica tentando mudá-lo para que se torne igual a você, me desculpe mas você não entendeu o espírito da coisa. Não adianta dizer que aceita só para parecer moderno. Não existe aceitação pela metade.